30 de junho de 2009

O que pode valer um jogador de futebol

Cerca de 94 milhões de euros foi a verba dispendida pelo Real Madrid para assegurar a contratação de Cristiano Ronaldo ao Manchester United. O montante constitui um novo recorde no futebol mundial (a transferência mais cara até aqui pertencia a Zidane, quando o mesmo clube pagou à Juventus de Turin 73,5 milhões de euros pelo jogador). A compra do passe do melhor do Mundo da FIFA em 2008 pelo colosso madrileno equivale a 57 vezes o seu peso em ouro. E esta é apenas uma das muitas comparações feitas pela imprensa mundial em relação à contratação mais cara da história du futebol.A polémica instalou-se à volta da transferência, surgindo a inevitável pergunta: o montante pago pelo passe e o salário do jogador (Cristiano Ronaldo vai receber nove milhões de euros por ano, ou seja, 35.000 euros por dia) são excessivos? Há quem diga que sim, como Michel Platini, presidente da UEFA. Há quem a considere "boa para o futebol", como Joseph Blatter, presidente da FIFA, que enaltece a vitalidade do mercado em plena crise económica mundial. "Sejamos generosos: é muito dinheiro, mas é o mercado. Há uma sensível crise económica mundial, mas o futebol continua a ser um bom mercado. Isto significa que o nosso produto continua a ser bom. Se este é o jogo do povo, os adeptos precisam de estrelas", disse o responsável do organismo que superintende o futebol mundial. E há também quem se limite a aceitar os incríveis valores em jogo desta e de outras transferências (como a de Kaká, futuro companheiro de Cristiano Ronaldo vindo do AC Milan, por 60 milhões de euros), com um simples encolher de ombros. Ou que diga, como Gerard Piqué, jogador do rival Barcelona, que "um futebolista vale o que pagarem por ele". "Se o Real investiu 94 milhões de euros é porque ele os vale. Há que fixar um preço e se alguém o paga é porque vale isso". O Real Madrid espera obter um retorno superior ao investimento realizado, através de novos contratos, merchandising e venda de direitos. Calcula-se que os "merengues” encaixem nos próximos seis meses 119 milhões de euros devido às novas contratações, e que o retorno financeiro apenas com a aquisição de Kaká poderá rondar os 72 milhões.Fui jogador profissional e continuo um apaixonado pelo desporto-rei. Mas tal facto não me impede de partilhar a opinião dos que consideram escandalosa a transferência do craque português para Madrid. Num momento de forte contestação ao valor destas transacções face à crise financeira mundial e ao endividamento dos clubes, o futebol português apresenta casos gritantes que são o reverso da medalha em relação aos grandes clubes europeus, a exemplo do Estrela da Amadora. Na época passada, este clube da liga profissional portuguesa não pagou um único salário aos seus jogadores. E como este existem milhares de exemplos similares em clubes de todo o mundo. Mais chocado fiquei quando li em comunicado da Organização das Nações Unidas (ONU) que os 94 milhões da transferência de Cristiano poderiam alimentar 8,6 milhões de etíopes."94 milhões de euros parecem trocos. Mas se virmos as nossas operações no Burkina Faso, Cambodja, Guatemala, Libéria e Suazilândia, servia para financiar todas elas durante um ano inteiro e ainda sobrava dinheiro“, disse Greg Barrow, responsável do Programa Mundial de Alimentação.Para mim, e estou a referir-me no que diz respeito ao seu rendimento em campo, não existe nenhum jogador no mundo que justifique um investimento tão elevado. Faço minhas as palavras de Cavaco Silva quando considerou que "se tinham ultrapassado os limites razoáveis". O Presidente da República desejou "muitas felicidades" a Cristiano Ronaldo, que, tal como José Mourinho e Luís Figo, "ajuda à projecção e prestígio de Portugal". Cavaco Silva fez ainda questão de salientar que "gostaria também que Portugal fosse mais conhecido pela inovação, modernização tecnológica, competitividade e outras razões". Também eu!

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