3 de novembro de 2009

A minha pátria é o futebol


Que o futebol é o desporto-rei entre os portugueses, era um dado adquirido, mas nunca até agora se tinha estabelecido a importância deste para os emigrantes e para a ligação que mantêm com o país natal. Segundo um estudo divulgado na semana passada, o futebol é o principal elo de ligação dos emigrantes a Portugal, funcionando também como espaço de emancipação nos países de acolhimento.
De acordo com os dados recolhidos no projecto "Diasbola" – que se iniciou em 2007 e termina no próximo ano –, o futebol é mais importante que a participação eleitoral ou a língua materna no vínculo a Portugal.
"A língua foi um espaço de emancipação, mas para os emigrantes e luso-descendentes hoje é mais o futebol que faz a Pátria", considerou Nina Tisler, investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e responsável pelo estudo.
O projecto "Diasbola", o primeiro estudo comparativo sobre este tema realizado em seis países (Alemanha, Brasil, Estados Unidos, França, Moçambique e Reino Unido), pretende apurar o impacto do futebol no quotidiano e na cultura dos emigrantes portugueses e perceber até que ponto contribui para a percepção e a imagem do Portugal contemporâneo, validando a hipótese de que para os emigrantes o futebol português é mais importante do que o próprio património cultural e linguístico.
O futebol permite aos portugueses emigrados ligarem-se a um Portugal moderno, através de organizações como o Europeu2004 ou figuras de primeiro plano do futebol mundial, como Cristiano Ronaldo, Figo e outros jogadores lusos internacionais que são notícia nas principais ligas da Europa e não só.
É uma realidade que está à vista. Quando os clubes portugueses jogam nas competições europeias, a "quota" lusitana contribui largamente para encher os estádios. E em caso de vitória das equipas portuguesas, os emigrantes, que têm, por vezes, um estatuto social subalterno, emancipam-se deste estatuto e sentem-se superiores. É que ganhar faz bem ao ego e a identidade nacional sai reforçada com o resultado conseguido, porque quando se perde a frustração é enorme.
No Luxemburgo, o fenómeno não foge à regra. Quando joga o nosso clube, tudo pára. E quando se trata da selecção, a camisola, o cachecol e a bandeira nacionais são acessórios obrigatórios.
E o Grão-Ducado, deixado de fora deste estudo, é um exemplo flagrante da importância do futebol na integração. É que a participação dos jogadores portugueses nas equipas amadoras dos campeonatos da Federação Luxemburguesa de Futebol (FLF) é fundamental para que estes funcionem. Em quantidade e qualidade.
Nas duas principais divisões (BGL Ligue e Promoção), os jogadores portugueses ultrapassam largamente a centena, sem contar com as outras divisões, as camadas jovens dos clubes e também as selecções jovens do Centro de Formação da Federação Luxemburguesa de Futebol.
São raríssimas as equipas das várias divisões que não têm jogadores portugueses nas suas fileiras. Algumas delas são mesmo maioritariamente compostas por portugueses e luso-descendentes. E já não falo dos casos do CeBra, AS Luxemburgo/Porto, Lusitanos de Larochette e RM Hamm Benfica, clubes resultantes da fusão de clubes luxemburgueses e portugueses, porque a estes últimos lhes foi negada a possibilidade de participar nas provas da FLF.
O futebol é um desporto de carácter universal, seduzindo praticantes e adeptos de todas as origens e classes sociais, garantindo uma pluralidade de usos e interpretações para quase todos os gostos e feitios.
O desporto-rei serve também de mote de conversa com desconhecidos, ao balcão ou à mesa do café, substituindo o tradicional tema da meteorologia, e alimenta disputas verbais incendiárias entre conhecidos, amigos e familiares, chegando mesmo a condicionar as opções de amizades e inimizades no quotidiano.
Verdadeira paixão, o futebol serve de escapatória à monotonia da vida quotidiana e de uma cada vez menor implicação pessoal no trabalho, mas também tem um efeito de alívio das tensões produzidas pela vida moderna, que se torna mais dura na maioria das comunidades lusas espalhadas pelo mundo.
O futebol não é apenas o principal elo que liga os emigrantes a Portugal, é também um vector de grande influência, importante na ligação com outras comunidades e no diálogo entre gerações de pais e filhos.
E esse fenómeno de "alma" nacional na diáspora sente-se, vive-se e festeja-se.

2 comentários:

  1. Caro Álvaro,
    Obrigada pelo "relatório" de Luxemburgo bastante interessante. O projecto DIASBOLA está interessado de ter ainda mais opiniões de Portugueses e luso-descendentes que vivem no estrangeiro. No sítio www.diasbola.com encontra-se um Inquérito Online. Talvez gosta de participar e divulgar o link? Obrigada e cumprimentos,
    nct (DIASBOLA)

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  2. Obrigado pelo comentário.
    Vou acessar o site e participar.

    Cumprimentos

    Álvaro Cruz

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